EM GETÚLIO VARGAS
XII Fórum Norte Gaúcho do Trigo e Milho aponta caminhos para fortalecer a produção, debate o futuro das culturas e novos mercados
Evento reuniu cerca de 350 pessoas para discutir clima, produtividade e mercado em Getúlio Vargas.
O Centro Comunitário Centenário de Getúlio Vargas recebeu, nesta sexta-feira, 25 de abril, cerca de 350 produtores, estudantes, técnicos e lideranças do agronegócio regional para o XII Fórum Norte Gaúcho do Trigo e Milho. O evento foi promovido pelo Sindicato Rural de Getúlio Vargas, Prefeitura Municipal de Getúlio Vargas, Emater/RS-Ascar, Associação dos Engenheiros Agrônomos dos Municípios do Alto Uruguai (Aeamau), Centro Universitário Ideau (Unideau) e Associação Comercial, Cultural, Industrial e Agropecuária de Getúlio Vargas (Accias).

O Fórum Norte Gaúcho tem como tema central "A Informação que Fortalece o Agro", com o objetivo de oferecer subsídios técnicos e de mercado para um dos setores mais estratégicos da economia regional.
Na abertura, o presidente do Sindicato Rural, Luiz Carlos da Silva, manifestou preocupação com o cenário atual da agricultura. "Estamos em um momento de descapitalização e de dificuldade para honrar compromissos financeiros. Discutir práticas agrícolas, mercado e clima é fundamental para manter a sustentabilidade das propriedades", afirmou.

O prefeito Pedro Paulo Prezzotto reforçou a importância histórica do agronegócio para a economia brasileira. "Se o agro vai mal, tudo vai mal. É o agronegócio que sustenta a economia brasileira", declarou.

CLIMA EXTREMO E NECESSIDADE DE GESTÃO DE RISCOS
A meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, abriu o ciclo de palestras com uma análise detalhada dos eventos climáticos extremos de 2024 e as projeções para 2025. "O que aconteceu foi extremo e é improvável que se repita tão cedo, mas o produtor precisa estar preparado. O passado recente expôs a fragilidade das políticas públicas e da gestão de desastres", alertou.

Para 2025, a expectativa é de um ano de neutralidade climática, mas com instabilidade. "Teremos alternância entre períodos de estiagem e chuvas intensas, além de variações bruscas de temperatura", afirmou Estael. Ela recomendou que os agricultores adotem práticas de gestão de risco para aumentar a resiliência das propriedades.
"Olhar para o que aconteceu em 2024 não é apenas relembrar um desastre, é usar o aprendizado para construir soluções mais eficientes e evitar que a história se repita", concluiu.
ECOFISIOLOGIA DO MILHO E PRODUTIVIDADE NO CAMPO
O professor e pesquisador Elmar Luiz Floss, referência nacional em fisiologia vegetal, destacou a importância estratégica do milho para o agronegócio e para a segurança alimentar. "O milho é hoje o cereal mais produzido no mundo e essencial para a cadeia de proteínas animais. No Brasil, temos um potencial extraordinário de expansão", afirmou.

Floss defendeu a adoção de práticas agronômicas rigorosas para alcançar altos rendimentos. "O milho é a base do sistema de plantio direto e da rotação sustentável de culturas. Investir em manejo correto e adubação adequada é fundamental", pontuou.
PERSPECTIVAS ECONÔMICAS FAVORÁVEIS PARA MILHO E TRIGO
O economista Ruy Augusto da Silveira Neto apresentou uma análise estratégica sobre o mercado mundial de grãos. Segundo ele, a demanda global por milho continua crescente, enquanto os estoques finais seguem em queda, o que tende a manter os preços aquecidos.

"A menor relação estoque/consumo desde 2010 favorece a valorização dos preços. Para quem produz milho, o cenário é bastante positivo", avaliou. Em relação ao trigo, Ruy destacou que a instalação de novas usinas de etanol de cereais amplia as possibilidades de mercado para os produtores.
INOVAÇÃO: ETANOL A PARTIR DO TRIGO
Milton Sfredo, gerente de Agronegócios da Be8, apresentou o projeto da maior usina de etanol de cereais da América Latina, atualmente em construção entre Passo Fundo e Carazinho. A planta terá capacidade para processar cerca de 525 mil toneladas de trigo por ano, transformando o grão não apenas em etanol, mas também em glúten vital e subprodutos para alimentação humana e animal.

"O verdadeiro pilar econômico do projeto é a produção de glúten. Mesmo trigos de menor qualidade poderão ser aproveitados, garantindo renda ao produtor", explicou Sfredo. Além disso, ele enfatizou que o projeto visa incentivar o aumento da área cultivada no inverno. "Nossa meta é ocupar parte significativa dos mais de 1 milhão de hectares disponíveis no Estado para a produção de trigo", destacou.
PAINEL TÉCNICO DISCUTE PRODUTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE
O painel técnico, mediado por Alencar Paulo Rugeri, gestor da área de culturas anuais da Emater/RS-Ascar, aprofundou o debate sobre o cenário da produção de trigo no Rio Grande do Sul. "Apenas 22% da área de grãos do Estado é cultivada no inverno. Precisamos avançar para 1,5 safras por ano para garantir a sustentabilidade das propriedades", ressaltou Rugeri.

O engenheiro agrônomo Giovani Faé, gestor da área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, defendeu a importância da assistência técnica para o aumento da produtividade. "Com planejamento adequado e boas práticas agrícolas, é possível superar a média histórica e alcançar rendimentos mais altos nas lavouras de trigo", afirmou.

Tiago De Paoli, gerente comercial Sul da Biotrigo, trouxe à discussão as inovações no melhoramento genético. "Estamos desenvolvendo cultivares de trigo mais resistentes a doenças e melhor adaptadas ao clima do Sul do Brasil. A pesquisa genética é decisiva para o avanço da cultura", pontuou.

APOIO INSTITUCIONAL E PATROCINADORES
O Fórum contou com o patrocínio de importantes entidades, que garantiram a realização do evento: o Sicredi como patrocinador Diamante; o Senar e a Bayer como patrocinadores Prata; e a Cotrijal, Adubos Coxilha, Pioneer, Brevant Sementes, Banco do Brasil e Be8 como patrocinadores Bronze.
Em seu pronunciamento, o gerente de desenvolvimento agro regional da Sicredi Sul Minas, Ademir Iorkoski, destacou a relevância da informação para a evolução do agronegócio. "O conhecimento é o insumo que faz a diferença na rentabilidade da propriedade rural", afirmou.

Ele revelou que, até abril de 2025, 85% da área prevista para financiamento da safra de trigo já estava contratada, demonstrando a confiança dos produtores na cultura do inverno. Atualmente, a instituição responde por cerca de 60% do crédito rural liberado na região de Getúlio Vargas e arredores.
"Plantar é o único caminho para colher bons resultados. O mercado pode oscilar, o clima pode surpreender, mas quem não planta, não colhe. E hoje, com boa gestão e informação qualificada, o produtor está cada vez mais preparado para transformar desafios em oportunidades", concluiu.
O evento encerrou com um almoço de confraternização e troca de experiências entre produtores, técnicos, estudantes e lideranças do agronegócio.