Quando a segurança vira tragédia: Penha contabiliza dezenas de corpos após megaoperação no Rio
Moradores expuseram corpos ao amanhecer; governo confirma 64 mortos, mas número pode dobrar com as novas denúncias.
Na madrugada desta quarta-feira (29), moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, vivenciaram um momento de dor e perplexidade. Segundo relatos da comunidade, foram levados à Praça São Lucas — na Estrada José Rucas, uma das principais vias da região — pelo menos 64 corpos.
Este número emerge após a mais letal operação já realizada no estado: o governo do Rio confirmou na terça-feira (28) que 60 criminosos foram mortos durante uma megaoperação nos complexos da Penha e do Complexo do Alemão, além da morte de 4 policiais.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro divulgou na manhã desta quarta-feira que o número de mortos na megaoperação dessa terça é de 132, segundo informações da rede de notícias CNN. O governo do estado, no entanto, ainda mantém o número de fatalidades em 64.

Segundo o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes Nogueira, os corpos que foram levados à praça não tinham sido contabilizados no balanço oficial apresentado no dia anterior.
O que se sabe
A operação — identificada pela imprensa como Operação Contenção — mobilizou cerca de 2.500 agentes entre polícias civil e militar para cumprir mandados de prisão e infiltrar-se em áreas dominadas por facções criminosas.
O balanço oficial: ao menos 64 mortos, entre os quais 60 suspeitos e 4 policiais.
Os moradores afirmam que os corpos trazidos à Praça São Lucas – em grande número – não constavam ainda no relatório oficial.
O pedido dos familiares fez com que os corpos fossem expostos para imprensa e registro, antes de serem cobertos por lençóis. A comunidade aguarda a retirada pelo Instituto Médico‑Legal do Rio de Janeiro (IML).
Se confirmados como não contabilizados, os mortos podem elevar o total para cerca de 120 vítimas — somando os 64 corpos levados à praça e os 64 já no balanço. Durante a noite, também foram encontrados mais seis corpos em área de mata no Complexo do Alemão, levados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas.
Contexto e impactos
Especialistas descrevem a operação como a mais letal da história do estado do Rio.
A lógica da ação envolvia a tentativa de desarticular a atuação da facção Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão.
Para a comunidade local, no entanto, a medida reacendeu temores antigos: sobre o controle territorial, o risco de bala perdida, a presença militar-policial constante e a sensação de que a ação, mesmo se justificada, excedeu limites em termos de impacto humano.