QUEBRADO
Correios buscam empréstimo de R$ 20 bilhões para conter crise e anunciam novo plano de demissão voluntária
Empresa acumula 12 trimestres de prejuízo e tenta reverter rombo financeiro com corte de despesas, venda de ativos e aposta em novos produtos — enquanto mantém diretoria inchada por indicações políticas.
Os Correios vivem um dos períodos mais delicados de sua história recente. Após 12 trimestres consecutivos de prejuízo e um rombo de R$ 4,3 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025, a estatal anunciou que está negociando um empréstimo de R$ 20 bilhões com bancos públicos e privados para reequilibrar suas contas e garantir fôlego financeiro até 2026. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (15) pelo presidente Emmanoel Schmidt Rondon, que assumiu o comando da empresa há menos de um mês.

A companhia, que já havia recorrido a um empréstimo emergencial de R$ 1,8 bilhão no ano passado, enfrenta dificuldades para manter suas operações em dia. Desde o início de 2025, transportadoras terceirizadas reduziram o ritmo de entregas por falta de pagamento, e agências conveniadas chegaram a relatar atrasos em repasses de comissões. O plano de saúde dos funcionários também foi afetado, com hospitais suspendendo atendimentos devido à inadimplência da empresa.
Em 2025, os Correios patrocinaram a turnê de Gilberto Gil intitulada "Tempo Rei - Última Turnê", com um aporte de R$ 4 milhões. A turnê, que marca a despedida do artista dos palcos, começou em março de 2025 e tem shows agendados até 2026.
Para tentar estancar a sangria, o novo presidente anunciou um pacote de medidas dividido em três frentes: corte de despesas operacionais e administrativas, diversificação de receitas e recuperação da liquidez. Entre as principais ações, está o lançamento de um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), que deve atingir parte dos cerca de 85 mil funcionários da estatal. Um PDV anterior, encerrado em maio, teve adesão de 3,5 mil empregados, mas o alívio nas contas foi considerado insuficiente.
Rondon também confirmou que a empresa colocará à venda imóveis ociosos e buscará renegociar contratos com fornecedores estratégicos, com o objetivo de reduzir custos sem comprometer o funcionamento das operações. Além disso, os Correios pretendem lançar novos produtos e serviços nos próximos meses, em tentativa de diversificar receitas e recuperar competitividade frente ao avanço das empresas privadas de logística.
Apesar da crise financeira, a atual gestão dos Correios ainda é criticada por manter uma estrutura de diretoria considerada inchada e politicamente influenciada. Cargos estratégicos continuam ocupados por indicados de partidos da base governista, o que, segundo fontes internas, tem dificultado decisões técnicas e a agilidade na implementação de reformas. Rondon evitou comentar o tema, mas afirmou que a prioridade é “colocar a empresa em rota de sustentabilidade”.