Com 33 votos favoráveis e 19 contrários, os deputados estaduais aprovaram, nesta terça-feira, o projeto de Lei 211/2021, de autoria do Executivo, que trata sobre a privatização da Corsan. Para justificar a privatização, o governo do Estado aponta que, no Rio Grande do Sul, 32% da população conta com esgoto tratado e, nos 307 municípios cobertos pela Corsan, apenas 17% das unidades possuem ligação com a rede de esgoto.
Além disso, a aprovação do texto vai de encontro com o novo Marco Legal do saneamento, aprovado pelo Congresso no ano passado, que prevê metas para melhorar a estrutura no país até 2033.
Ao longo da sessão, os deputados manifestaram, calorosamente, posicionamentos, favoráveis e contrários ao PL. Parte das críticas era direcionada ao governador Eduardo Leite (PSDB) e à “quebra de promessa” de campanha, de não privatizar a estatal. O deputado Edegar Pretto (PT) chegou a comparar a tática do tucano com a da presidência da República, afirmando que o governador está “aproveitando o tempo para passar a boiada”. “Mentiu na campanha para se eleger sim. E nesse momento entrega sua palavra, sua política, a entendimentos sórdidos”, acusou Sofia Cavedon (PT).
As alegações foram rebatidas pelos deputados Sérgio Turra e Marcus Vinicius, ambos do PP, que justificaram a mudança de posicionamento do governador ao fato de as “regras do jogo terem mudado”, ao se referirem ao Marco Legal do Saneamento.
Para fortalecer a resistência, o deputado Tiago Simon (MDB), que de início previa não participar da sessão em função da morte recente do irmão, Tomaz, manifestou posicionamento contrário. Ao chamar a condução do governo de “ilegítima”, por não atacar o pedido dos prefeitos, por mais tempo, Simon alegou que “o governador João Dória (principal concorrente de Leite nas prévias do PSDB à presidência da República) está mostrando muito mais competência do que o governador Eduardo Leite”.
Já o deputado Matheus Wesp (PSDB) afirmou que, com a privatização, ao contrário do que alega a oposição, a empresa vai manter os funcionários e, inclusive, ampliar o quadro de pessoal. “O interesse da empresa é atender os gaúchos, não o interesse do servidores”, disse.
Apesar da aprovação do PL 211, uma outra proposta, que trata da regionalização do saneamento, ainda deve seguir em discussão. No entendimento dos parlamentares e prefeitos, devido à complexidade do assunto, é necessário mais tempo para a compreensão da matéria, que também tramita em regime de urgência. O texto era o décimo na ordem do dia desta terça. A próxima sessão plenária só ocorre em 14 de setembro.
Parte dos deputados reiterou em plenário a decisão da Famurs, que em assembleia extraordinária, na segunda-feira, pediu mais tempo para debater o assunto. “O recado dos municípios foi muito claro: os prefeitos e a população estão inseguros quanto à proposta de privatização. Não houve espaço para diálogo”, enfatizou a deputada Patrícia Alba (MDB). Atualmente, a Corsan atende 317 municípios gaúchos – destes, ao menos 280 através do sistema de subsídio contrário. De acordo com a parlamentar, com a privatização, os prefeitos temem que esse sistema acabe.
Sobre os apontamentos da Famurs, o governo esclarece que uma emenda protocolada pelo líder do governo, Frederico Antunes (PP), garante esse tempo solicitado pelos gestores. Por exemplo, além dos 10% das ações, os municípios ainda ficarão com 5% do resultado das vendas das ações para investimentos em diversas áreas. Na mesma linha, Sérgio Turra defendeu a emenda. “Ninguém falou, mas a emenda trata, porque foi solicitado pelos municípios, da tarifa social. A emenda que o governo teve a sensibilidade de ouvir esse conjunto de pedidos”, defendeu Turra. A emenda passou com 32 votos favoráveis, 18 contrários e quatro abstenções.
Outros deputados da base também se manifestaram contrários ao projeto. “Esse não é um pensamento contrário às privatização, mas, nas condições da situação. A Corsan dá lucro e está vinculada diretamente a questão de saúde”, defendeu o deputado Thiago Duarte (Dem).
A seguir, veja como cada deputado votou no projeto que prevê a privatização da Corsan:
SIM (33):
NÃO (19):
NÃO VOTARAM (3)
Entenda
• Em março deste ano, o governador Eduardo Leite anunciou, em coletiva, o início do processo de privatização. A manifestação decorreu de mudanças impostas pelo Marco Regulatório do Saneamento, aprovado no Congresso Nacional. Segundo o governador, a Corsan não tinha condições de cumprir as metas previstas no Marco até 2033.
• Atualmente, dos 497 municípios gaúchos, 317 são atendidos pela Corsan. Em outros 180, a prestação ocorre de outras maneiras, como por autarquias ou pela iniciativa privada.
• Segundo o governo do Estado, com a privatização, o Executivo espera gerar R$ 10 bilhões em investimentos, com universalidade de serviço de água e esgoto.
• No sentido de garantir a privatização, o governo assegurou maioria, na Assembleia, para aprovar a PEC que retira a obrigação de plebiscito para desestatização da Corsan. A proposta, de autoria do deputado Sérgio Turra, passou em dois turnos, no início de junho.
• Após, pouco antes do início do recesso parlamentar, o Executivo encaminhou o projeto de lei pedindo a privatização da companhia.
• Com o aval da Assembleia, o Executivo espera fazer a abertura de Capital (IPO), na bolsa de valores, com capitalização da ordem de R$ 1 bilhão e a venda de parcela relevante das ações hoje em poder do governo do Estado.