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Pixabay/uso livre
Educação

Adolescência: os desafios de estudar online

Excesso de telas, ausência física e novo modelo de aprendizado são algumas das dificuldades durante a pandemia.

Bella Mais/CP
por  Bella Mais/CP
17/07/2020 09:20 – atualizado há 3 anos
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A educação foi um dos setores mais afetados nos últimos meses, por causa da pandemia. As escolas têm tido a missão de conquistar a atenção dos estudantes, agora de forma virtual - e para os adolescentes, que já vivem uma fase de adaptação natural, o desafio pode ser ainda maior.

Segundo a psicóloga e pesquisadora dos programas de pós-graduação em Educação da PUC-RS, Andreia Mendes dos Santos, a principal ferramenta que a escola e os professores devem utilizar com os estudantes e suas famílias é o diálogo. “Tanto para explicar suas estratégias, quanto para acolher e assim continuar desempenhando esse importante papel social. Nestes tempos de reinvenção, os processos de aprendizagem migraram para dentro das casas e, portanto, utilizar esse cotidiano pode ser uma estratégia possível para ensinar de forma remota”, explica Andreia. “Outro desafio é conectar-se. A pandemia nos trouxe medos, incertezas. Ainda não temos soluções para a mesma, mas podemos buscar compreender suas causas, seus impactos. Pela pesquisa o estudante trilha diferentes conteúdos e os conecta com aquilo que lhe faz sentido”, complementa.

Para Andreia, entre os principais desafios enfrentados pelos alunos neste período está a “migração” ao modelo adotado pela escola e o longo processo de adaptação (do aluno, do professor, da família) que se construirá a partir de então. A começar pela própria escola, que em caráter de emergência precisou inventar um outro jeito de construir processos de ensino e aprendizagem. “Não temos um projeto de educação básica nos moldes de processos remotos. E outro elemento que é importante pontuar é que nem sempre, o modelo adotado corresponderá às necessidades do estudante. E aqui falamos de questões pedagógicas e estruturais, como acesso à internet, computadores, etc”, explica a profissional. “Temos casos de irmãos que, enquanto um desenvolve suas atividades durante a aula online, o outro tem maior dificuldade para se concentrar”, aponta.

Outro desafio enfrentado é a escola em casa. “A falta do lugar da escola pode significar o não pertencimento a essa. O deslocamento, o uniforme, dos sinais entre um período e outro, independente da escola, ela possui uma organização que não é ao acaso, nem por conveniência. Crianças e adolescentes ainda necessitam de auxílio para construírem sua própria organização, e a escola também tem essa função”, explica Andreia.

Nesse sentido, os pais desempenham papel central da situação e o ideal é que haja uma parceria com a escola. “Pais são referências aos filhos, modelos. A família precisa conversar sobre a pandemia, juntos precisam se fortalecer porque também foram afetados. Ajudar o adolescente a se reorganizar, pois uma nova rotina deve ser pensada. Pais devem ficar atentos aos sentimentos dos filhos”, esclarece a profissional.

A convivência entre colegas agora é virtual

As relações, diálogos e a convivência na escola são importantes para o desenvolvimento humano. Podemos pensar que isso também ocorre em outros lugares – e é verdade – mas na escola há um terceiro elemento (o professor) que também vai ser o mediador das relações. “Mesmo que muitos de nossos jovens sejam acostumados a se comunicarem de forma virtual, a experiência da convivência foi alterada e, mesmo que estejamos conectados, não será a mesma”, aponta Andreia.

Na escola, crianças e adolescentes têm muitas de suas primeiras experiências numa relação com seus pares, ou seja, entre amigos, e isso é um franco exercício de cidadania. “O que observamos é que a ausência da escola tem levado muitos jovens ao isolamento social, desmotivação, tristeza e depressão. O adolescente precisa do seu par (amigo, colega, grupo) para a construção do seu próprio eu, porque o outro – que está na mesma condição que ele (é também adolescente) reafirma e fortalece o amigo. Essa é uma das razões para os adolescentes e jovens preferirem andar em grupos”, esclarece.

O excesso de telas

Os adolescentes estão cada vez mais conectados aos seus smartphones. E neste momento, a questão é paradoxal, pois agora precisamos das telas. Porém, Andreia alerta que o pano de fundo continua o mesmo: qual o impacto da exposição, o que é acessado, o que são as relações virtuais? “A tecnologia é um meio para a educação em tempos de pandemia, mas não o objetivo. Infelizmente, estamos necessitando mais das telas para nos aproximarmos. É preciso ter clareza sobre os objetivos do uso que estamos fazendo neste momento”, indica.

Uma preocupação já anterior é a substituição do real pelo virtual, numa espécie de desconexão da realidade. “Outra questão é a precarização das relações. Aulas, reuniões de trabalho, encontros familiares e com amigos têm sido possível pela tecnologia. Mas nos nossos braços não abraçam mais. É sobre isso que precisamos pensar. Muitos conflitos também têm sido deflagrados porque a ausência do outro e o imediatismo que a internet me possibilita ‘autorizam’ a descartabilidade do outro – afinal, algo logo vai substituí-lo. É preciso uma reflexão a respeito deste tema”, alerta a profissional.

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