Entre as mulheres que recebem pensão "temporária" do Congresso por serem filhas solteiras de ex-parlamentares e de ex-servidores, está uma militante feminista e filosofa que vive há quase meio século em Paris. Helena Hirata é pesquisadora e estuda, entre outras coisas, discrepâncias salariais na remuneração entre homens e mulheres e alega nunca ter dependido da pensão mas, mesmo assim, aceita receber o benefício há 46 anos.
De acordo com informações do Estadão, Helena tem 73 anos e admitiu receber a benesse de R$ 16,8 mil mensais – R$ 218,4 mil por ano – pagos pela Câmara com dinheiro do contribuinte. Ela recebe a benesse por ser filha do ex-deputado federal João Sussumu Hirata e, apesar de não considerar o privilégio justo, alega aceitar o pagamento por orientação de seu advogado.
Segundo ela, a bolada era repassada à mãe até seu falecimento, em 2016. Além da pensão, a filosofa também recebe aposentadoria como pesquisadora.
“Nunca dependi dessa pensão, pois sempre tive bolsa ou trabalho remunerado e hoje sou aposentada do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França).”
O valor da pensão recebido por Helena é quase o triplo do teto da aposentadoria do INSS para 2020, de R$ 6.101,06 por mês. Ela recebe a pensão desde o falecimento do pai, há 46 anos.
Militante feminista e autora de estudos sobre a remuneração desigual recebida por mulheres, ela reconhece que o benefício expõe a desigualdade dentro do universo feminino no Brasil.
“As mulheres chefes de famílias, dentre as quais um número significativo de mães solteiras, são hoje mais de 40% no Brasil. Elas não recebem, embora sejam mulheres, solteiras e sem pai ou marido para sustentá-las, auxílio do tipo que a Câmara concede às filhas solteiras de deputados falecidos”, comparou.